Aprendizagem Organizacional, do que se trata?

Dez 9, 2021

Valoriza-se tanto o aprender a aprender hoje, o olhar para aprendizagem nos ambientes de trabalho, mas será que sabemos de que aprendizagem estamos falando? Quando falamos de Aprendizagem Organizacional, estamos falando de quê?

Para começar, é importante lembrar que a Aprendizagem Organizacional (APO) reúne diversas abordagens de áreas relacionadas à Psicologia, Sociologia, Antropologia, Administração e tantas outas disciplinas. Para conhecer as fronteiras dessa abordagem interdisciplinar, relembro aqui alguns autores clássicos que já se debruçaram sobre o assunto.

Dentre as primeiras publicações diretamente relacionadas à APO, estão os textos de Argyris e Schon (1996), que já na década de 70 abordavam a capacidade de as organizações aprenderem e o papel das pessoas nesse processo. Posteriormente, na década de 90, vieram as publicações de Senge et al. (1999) e Senge (2016) com sua abordagem sobre organizações de aprendizagem. Contudo, na década de 50, Bateson (1991) já tratava de dêutero-aprendizagem para exprimir uma meta-aprendizagem, expressão que foi melhor adaptada pela escola de Peter Senge com a noção de aprender a aprender.

Abaixo duas definições sobre esse campo de estudo:

Uma “organização que aprende” (learning organization) é uma organização que está continuamente expandindo sua capacidade de criar seu futuro. Para uma organização como essa, não basta apenas sobreviver. “A aprendizagem visando a sobrevivência” ou o que conhecemos mais comumente como “aprendizagem adaptativa” importante – na verdade, é necessária. Mas, para uma organização que aprende, a “aprendizagem adaptativa” deve ser somada à “aprendizagem generativa”, a aprendizagem que amplia nossa capacidade de criar. (SENGE, 2016, p.50).

Organizações que aprendem são aquelas que apresentam habilidades em cinco atividades principais: solução de problemas de maneira sistemática; experimentação de novas abordagens; aprendizado com as próprias experiências e antecedentes; aprendizado com as experiências e melhores práticas alheias; e transferência de conhecimento rápida e eficiente. (GARVIN, 2000).

De acordo com o consultor e educador na teoria e prática da gestão da sustentabilidade corporativa, McElroy (2003), a APO tem como foco a criação e a promoção de ambientes eficazes de processamento de conhecimento nos sistemas sociais humanos. O autor faz uma relação entre a APO e a segunda geração da Gestão do Conhecimento, que reforça a capacidade das organizações aprenderem e aprenderem efetivamente de maneiras sustentáveis.

Garvin (2000), um dos principais nomes da qualidade nas organizações, salienta que, mesmo com a implantação de programas de melhorias, as organizações lidam com uma quantidade de fracassos superior à de êxitos porque a maioria delas não apreende a verdade básica:  a necessidade de aprender. Na visão do autor, para se transformar em uma organização que aprende, ela deve tratar de três temas críticos: (i) significado (meaning – definição fundamentada e aplicável de organização que aprende); (ii) gestão (management – diretrizes claras sobre aspectos práticos); e (iii) mensuração (measurement – ferramentas para avaliar a velocidade e os níveis de aprendizado da organização). Um dos pontos que mais me atraem no pensamento do autor é a importância dada por ele à promoção de ambiente propício ao aprendizado.

A pergunta que faço é: como desenvolver um ambiente organizacional favorável ao aprender a aprender continuamente, saindo de posturas (individuais e organizacionais) reativas para posturas (individuais e comportamentais) ativas e, por que não, proativas? Mais especificamente:

  • como o indivíduo, os grupos e as organizações podem contribuir para o ambiente de aprendizagem a partir da sua própria ação
  • como ir de um aprendizado reativo ou adaptativo para um aprendizado criativo?
  • como aprender a aprender?

Ações voltadas a processos de APO podem ser desenvolvidas e otimizadas, valorizando o fato de que esses processos: são centrais para a competitividade e a sobrevivência das organizações; caracterizam-se como fenômenos ao mesmo tempo individuais e coletivos; estão relacionados à cultura das organizações; e envolvem a associação entre ordem e desordem (SOUZA, 2004). A APO surge como ferramenta para as organizações se tornarem mais competitivas e se adaptarem às mudanças constantes (ANTÓNIO, N. S; COSTA, 2017). 

Todavia, ao investigar processos de mensuração da APO, Neves e Steil (2019) constatam que a complexidade inerente ao dia a dia das organizações e a falta de entendimento comum sobre o conceito de aprendizagem organizacional estão entre os principais aspectos que dificultam o desenvolvimento de instrumentos de medição válidos. De acordo com os autores, “a escassez de metodologias apropriadas limita a compreensão do progresso da aprendizagem no âmbito organizacional, assim como seu impacto para indivíduos, grupos e organizações” (NEVES; STEIL, 2019, p. 720).

No quadro a seguir procurei sintetizar as cinco disciplinas de Senge (2016) e as cinco habilidades apresentadas por Garvin (2000) para o desenvolvimento de organizações que aprendem.

Com base nos aspectos apresentados, a APO a que me refiro, considera tanto a perspectiva de Argyris e Schön (1996), que tem como foco o esforço cognitivo e ativo dos indivíduos para transformar seus modelos mentais, mudar suas interações e desenvolver novas formas de atuar; quanto a perspectiva de Senge (2016), que conceitua organizações de aprendizagem como organizações capazes de aprender e de ampliar continuamente sua capacidade de realizar seus objetivos; e a proposta de Garvin (2000) que observa organizações de aprendizagem como organizações que dispõem de habilidades para criar, adquirir e transferir conhecimento, sendo capazes de modificar seu comportamento, de modo a refletir os novos conhecimento e ideias. Para os autores, a aprendizagem individual não garante a APO. Todavia, as organizações só aprendem por meio dos indivíduos que aprendem (SENGE, 2016).

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Os conceitos e reflexões aqui apresentados são apenas um embrião dos vastos campos de estudo que se desdobram em torno das pesquisas sobre APO. Para saber um pouco mais a respeito desse assunto e das diversas dimensões que se relacionam a ele, acesse: https://repositorio.unb.br/handle/10482/41158