Matriz de Sentidos: um instrumento de reflexão sobre as conversas nas organizações

Dez 1, 2021

E se as organizações tivessem um momento para parar e pensar sobre os conteúdos e as formas do que conversam? O que perceberiam a respeito do que se passa por detrás das conversas que as movem? O que as pessoas aprenderiam? Que resultados além das metas as organizações alcançariam?

Este artigo é parte de um estudo exploratório que investiga as conversações e considera suas características universais e gerais. Universais porque em qualquer lugar do mundo, independentemente do idioma, as pessoas conversam. Gerais porque ações como pedidos, ofertas e promessas, ainda que em locuções, credos, etnias ou classes sociais diferentes, ilocucionariamente possuem o mesmo sentido

Partindo dessas características, este estudo apresenta de forma resumida o instrumento de pesquisa utilizado para investigar a importância das conversas, em particular, conversas para coordenação de ações e realização de compromissos relacionados ao processo de produção da notícia em ambientes de redações jornalísticas: a Matriz de Sentidos. Sua relevância está no potencial de contribuição para a eficiência e eficácia das rotinas de produção da notícia, profundamente modificadas e vulnerabilizadas pelas novas formas de configuração das redes de colaboração e seus novos meios e suportes de comunicação digital.

Embora tenha sido desenvolvida no contexto de uma pesquisa voltada para os ambientes de redações jornalísticas, a Matriz de Sentidos foi construída para investigar o potencial das conversas em qualquer tipo de organização.

Especificamente, estivemos atentos a observar:

  • Como dar conta das interações humanas não estruturadas, do ponto de vista conversacional, observadas nos espaços investigados?
  • Como coordenar ações em estruturas aparentemente inflexíveis e, mais que isso, “imprevisíveis”, dadas as dinâmicas e o impacto do uso das novas tecnologias da informação já hoje presentes e cada vez mais dominantes nos ambientes organizacionais?
  • Como isso tem se apresentado e afetado as conversações nesses ambientes, seja em suas interações internas em equipe, seja em suas interações externas, com o mundo que as rodeia?
  • Que novos processos de aprendizagem precisamos “aprender a aprender” para transitar e produzir, com eficiência, eficácia e sustentabilidade, essas novas transformações tão necessárias? 

Do ponto de vista de aprendizagem, esses processos ou dinâmicas de funcionamento de pessoas ou “organizações humanas” se referem não só à aprendizagem individual, mas, também, à aprendizagem organizacional e à criação e produção do conhecimento. Em particular, se referem à interação entre pessoas no âmbito organizacional. 

Nesse contexto, as “janelas de possibilidades” de aprendizagem, abertas para observação, a partir das distinções providas pela Teoria Fundamentada nos Dados (metodologia utilizada durante a pesquisa), tais como “coleta seletiva de dados” (ICHIKAWA E SANTOS, 2001) e “amostragem teórica” (GASQUE, 2007), nos permitiu observar e acompanhar nossos próprios processos de aprendizagem, em vários níveis de profundidade: desde os “aprenderes” mais superficiais ancorados no “aprender a conhecer” e “aprender a fazer”, até os níveis mais profundos como “aprender a conviver” e “aprender a ser”, conforme apontados no livro “Educação: um Tesouro a Descobrir”, editado no Brasil pela UNESCO (2010), e também conhecido como “Relatório Delors” (1999). 

Foi exatamente com base nesses níveis de aprendizagem, às vezes referidos como “pilares de aprendizagem da UNESCO”, que situamos nossos processos de aprendizagem ao longo dessa jornada de investigação sobre o que passa, em nível fenomenológico, nas dinâmicas conversacionais presentes nos ambientes das redações jornalísticas observadas na pesquisa.

A aplicação do método desenvolvido por Glaser e Strauss (1967), Teoria Fundamentada nos Dados, exige comportamentos humanos tais “abertura, persistência, habilidade e sensibilidade do pesquisador para perceber as categorias que emergem dos dados, separar o que é pertinente do que não é para a pesquisa, decidir com quais situações trabalhar, perceber o momento da saturação teórica e reconhecer insights em direção da descoberta da teoria” (ICHIKAWA e SANTOS, 2001; BANDEIRA-DE-MELLO e CUNHA, 2003). Ou seja, comportamentos típicos, necessários em situações de aprendizagem, seja por indivíduos, seja por “organismos humanos” mais complexos (caso dos ambientes de “redações jornalísticas” observadas nesta pesquisa).

Informações detalhadas sobre o processo de construção e de aplicação da Matriz de Sentidos em qualquer organização podem ser encontradas no artigo científico publicado na Revista Animus – Revista Interamericana de Comunicação Midiática, em 2020.

Os resultados desse trabalho também foram apresentados no artigo publicado no VII Seminário Hispano na Universidad Complutense de Madrid (realizado em 2018), no capítulo 2 do livro Competencias en Información y Políticas para Educación Superior: Estudios Hispano-Brasileños (publicado em 2019) e no capítulo 6 do livro Digital Convergence in Contemporary Newsrooms: Media Innovation, Content Adaptation, Digital Transformation, and Cyber Journalism (publicado em 2021).

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