Quando falamos de organizações, estamos falando do quê?

Dez 1, 2021

Organizações são empresas, instituições? Quando usamos organização como termo ou quando unimos “organizacional” a alguma outra palavra, estamos falando do quê exatamente? Muita vezes adotamos os termos que vemos como comuns no mercado sem refletir quais pressupostos eles sustentam, por isso, hoje quero propor uma definição de organização que passa por alguns pressupostos das teorias da complexidade.

Partindo da Teoria Geral dos Sistemas (TGS), do biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy (1901-1972), podemos entender uma organização como um sistema social formado por subsistemas que deve interagir com o meio externo para garantir sua sobrevivência.

Dentre suas características, a TGS busca avaliar a organização como um todo e não somente seus departamentos ou setores, considera a influência de variáveis internas e externas ao seu funcionamento e observa a organização como parte de um sistema maior que vai além do ambiente em que está inserida. Essa visão sistêmica considera que o todo é maior que a soma das partes, ou seja, que o conjunto apresenta características que não são encontradas em nenhum dos elementos isolados. A TGS permite, portanto, a inter-relação e integração de assuntos de natureza completamente diferentes.

De acordo com o escritor, professor e consultor da área de administração de empresas e recursos humanos Chiavenato (2003), a palavra sistema denota um conjunto de elementos interdependentes que formam um todo organizado. Os sistemas, segundo o autor, são caracterizados por sua constituição (podendo ser concretos ou abstratos) e por sua natureza (podendo ser fechados ou abertos).

Nas pesquisas e consultorias que tenho desenvolvido nos últimos anos me interessam os sistemas complexos e abertos, considerados na biologia como aqueles que apresentam relações de intercâmbio com o ambiente por meio de entradas e saídas, ou seja, que sofrem interações com o ambiente no qual estão inseridos. Por que pensar sistemas abertos nos ajuda a repensar o modo como os organismos e as estruturas se organizam? Essas interações geram realimentações e podem ser positivas ou negativas, criando uma autorregulação regenerativa, que, por sua vez, criam novas propriedades, as quais podem ser benéficas ou maléficas para o todo, independente das partes. Nessa abordagem, os sistemas vivos (indivíduos ou organizações) são analisados como sistemas abertos, mantendo um contínuo intercâmbio de matéria, energia e informação com o ambiente.

Este conceito é perfeitamente aplicável às organizações empresariais. Para Chiavenato (2003), uma organização é um sistema aberto integrado por diversas partes ou unidades interdependentes que trabalham em harmonia umas com as outras, com a finalidade de alcançar objetivos, tanto da organização como de seus participantes, influenciando e sendo influenciada pelo meio ambiente. Seu comportamento é probabilístico e não determinístico, além de terem objetivos e fronteiras ou limites mais ou menos definidos.

O sistema aberto se caracteriza por um intercâmbio de transações com o ambiente e conserva-se constantemente no mesmo estado (autorregulação) apesar de a matéria e a energia que o integram se renovarem constantemente (equilíbrio dinâmico ou homeostase). O organismo humano, por exemplo, não pode ser considerado mera aglomeração de elementos separados, mas um sistema definido que possui integridade e organização. Assim, o sistema aberto – como o organismo – é influenciado pelo meio ambiente e influi sobre ele, alcançando um estado de equilíbrio dinâmico nesse meio. O modelo de sistema aberto é um complexo de elementos em interação e intercâmbio contínuo com o ambiente. (CHIAVENATO, 2003, p. 478).

A partir de uma abordagem sistêmica, a TGS visualiza a organização como um sistema aberto constituído de cinco parâmetros básicos: entradas (o sistema importa do ambiente energia e insumos para o seu funcionamento), processamento (transformação que converte entradas em produtos), saídas (transferência de elementos produzidos por um processo de transformação até seu destino final), retroalimentação (feedbacks que reforçam ações e comportamentos ou provocam ajustes e modificações nas atividades de entrada ou processamento) e ambiente (não vive isolada).

De forma similar aos cinco parâmetros básicos de uma organização apresentados por Chiavenato (2003), Laudon e Laudon (2010) descrevem um sistema de informações da seguinte forma:

Três atividades básicas – entrada, processamento e saída – produzem as informações que as organizações necessitam. Feedback é a resposta que retorna a determinadas pessoas e atividades da organização para análise e refino da entrada. Fatores ambientais, como clientes, fornecedores concorrentes, acionistas e agências reguladoras interagem com a organização e seus sistemas de informação. (LAUDON e LAUDON, 2010, p. 13).

Para ilustrar essa abordagem, sugiro o seguinte esquema:

Enquanto a ambiguidade ocorre quando a organização volta o olhar para o passado para entender o presente, a incerteza surge quando a organização perscruta o futuro para agir no futuro. (CHOO, 2003, p. 418).

A Figura mostra como as organizações não podem ser adequadamente compreendidas de forma isolada, mas sim pelo inter-relacionamento entre diversas variáveis internas e externas que afetam o seu comportamento. Nesse sentido, uma empresa é caracterizada como um sistema aberto, pois sofre interações e flutuações de seu ambiente interno (processos, normas, pessoas etc.) e do ambiente externo (sociedade, economia, política, meio ambiente etc.)

Tal como colocado pelo professor de Estudos da Informação, Choo (2003), a chave para entender as organizações como sistemas de informação é reconhecer as duas características que toda atividade organizacional enfrenta: ambiguidade (uma informação sobre o passado comporta mais do que uma interpretação plausível) e incerteza (não se pode controlar o futuro, de modo que a informação sobre o futuro nunca é completa ou precisa). 

Enquanto a ambiguidade ocorre quando a organização volta o olhar para o passado para entender o presente, a incerteza surge quando a organização perscruta o futuro para agir no futuro. (CHOO, 2003, p. 418).

O compartilhamento, a construção e a aplicação do conhecimento revelam a importância de se reconhecer essas características e a necessidade de interações internas e externas a esses sistemas. Para Choo (2003), a construção do conhecimento não é resultado de uma atividade isolada, mas o resultado da colaboração de membros internos e externos à organização. Essa colaboração está estritamente relacionada ao fluxo de conhecimento que acontece dentro das (e entre as) redes de conversações internas e externas à organização.

Na tese que defendi este ano, considero que independentemente do tipo de tecnologia disponível na organização, os fluxos de conhecimento organizacionais acontecem nos espaços relacionais, por meio das redes de conversações. Cada um dos tipos de fluxo (socialização, externalização, combinação, internalização) de conhecimento depende do observador que cada ser humano (sujeito do conhecimento) é do mundo, ou seja, dos seus filtros e estruturas interpretativas, da forma como se relaciona, sente e atua. Uma abordagem complementar à compreensão do termo organização adotado no âmbito da tese trata das organizações como redes de compromissos conversacionais. Para isso recorro a estudos nos campos da Aprendizagem Organizacional, da Gestão do Conhecimento, da Teoria da Complexidade e da Biologia-Cultural da Linguagem de Humberto Maturana.

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