Trajetória de investigação sobre a importância das conversas nas redações BBC, Reuters, La Nación, Correio Braziliense e O Globo

Dez 9, 2021

Nos anos de 2017, 2018 e 2019 trabalhei em uma pesquisa sobre “competências conversacionais em ambientes de redações jornalísticas”. O trabalho foi realizado durante o período sanduíche do meu doutorado na Brunel University London e contou com o apoio do Programa Ciências sem Fronteiras.

A pesquisa teve como base a “Ontologia da Linguagem” – que compreende que os comportamentos humanos são significativamente impactados pela Linguagem em seus 3 domínios constitutivos (o pensar, o sentir e o querer) do Ser humano. 

Na reflexão desenvolvida, a pesquisa investigou a importância das conversas, enquanto manifestação humana, e seu potencial de contribuição para a eficiência, eficácia e sustentabilidade das rotinas de produção da “notícia”, dando-lhes visibilidade formal, teórica, filosófica e metodologicamente fundamentadas. Teve como objetivo extrair e analisar trechos das gravações de entrevistas não estruturadas, realizadas com editores, subeditores, repórteres, chefes de redação e representantes das áreas de fotografia, design e tecnologia da informação, entre 2015 e 2017, em redações jornalísticas da Inglaterra, Costa Rica e Brasil.

A figura abaixo e os itens seguintes resumem o trajeto metodológico desenvolvido:

1.   Transcrição das gravações das entrevistas não estruturadas realizada nas redações dos jornais BBC, Reuters, La Nación, Correio Braziliense e O Globo. Parte das gravações encontravam-se em inglês, parte em espanhol e uma outra parte em português.

2.   Organização do conteúdo transcrito, de acordo com os assuntos discutidos durante as entrevistas, buscando identificar eventuais padrões nas conversas de redação sobre os temas tratados. Nesta etapa de transcrição foi possível agrupar informações por tema, como também, observar e registrar pontos de convergências e divergências entre os diferentes ambientes de produção de notícia visitados.

3.   Desenvolvimento de instrumento de análise de dados, composto de duas etapas. A primeira, responsável por selecionar os trechos das gravações das entrevistas que apresentavam algum nível de “coordenação de ações” e cumprimento de compromissos entre as pessoas e equipes responsáveis pela produção da notícia. A segunda etapa correspondeu a um questionário com perguntas genéricas (sobre o falar e o escutar efetivo, confiança e resolução de conflitos) e específicas (sobre “tríade de compromissos – tarefa, relacionamento e identidade” (T-R-I), Kofman (2002, v. II); “ciclo de coordenação de ações”, Flores (1994, 1996, 2015) e Echeverría (1998 e 2002); “aprendizados de 1ª, 2ª e 3ª ordens”, Kofman (v. I, 2002); e o conceito de “conversas efetivas” adotado na pesquisa desenvolvida).

4.   Ao final da transcrição parcial das gravações, da organização do conteúdo transcrito e da confecção do primeiro instrumento de análise, foi iniciada a aplicação do instrumento elaborado. Todavia, a utilização de dados primários, colhidos em pesquisa anterior ao estudo aqui abordado, levantados por observadores diferentes dos autores deste estudo e com preocupações diferentes das exploradas em nossa pesquisa, no tema das competências conversacionais, não permitiu a obtenção de respostas úteis ao roteiro de perguntas elaborado. Dessa forma, percebeu-se que o questionário presente na Etapa II do instrumento de análise não seria adequado para investigar, com algum nível de profundidade, as conversações em curso nas redações dos jornais investigados, à luz dos dados disponíveis.

5.   Em contrapartida, essa mesma dificuldade nos conduziu a uma observação mais profunda dos dados. Assim, a tentativa de responder a Etapa II do primeiro instrumento de análise, embora não tenha resultado em respostas úteis à pesquisa em curso, nos levou a perceber a possibilidade de caracterizar alguns trechos observados nas entrevistas, segundo temas e conversas típicas de ambientes de redações jornalísticas, bem como de competências conversacionais.

6.   Essas lacunas provocaram novas questões que nos levaram a desenhar um “esquema” que ajudasse a analisar não a lógica e os conceitos oriundos da fundamentação teórica investigada, mas sim os resultados obtidos a partir de comparações entre os dados extraídos de diferentes fontes de dados primários durante a “coleta seletiva de dados”. Surgiu, então, o segundo instrumento de análise, a “Matriz de Sentidos .

7.   A “Matriz de Sentidos” mostrou que é possível fazer uma avaliação da relação entre o fenômeno observado e as dimensões ontológicas das conversas, no que diz respeito a seus níveis de ação. 

O último passo do trajeto metodológico resultou em uma análise consistente dos dados e na obtenção de resultados confiáveis. Dentre os esforços realizados nessa fase, ressalta-se: as relações entre as categorias dos dados investigados, a apresentação das descobertas e a descrição da teoria que emergiu da análise.

Os resultados gerados ao final da pesquisa não foram como os inicialmente previstos por nós. Desde os primeiros contatos com os dados disponibilizados, percebemos que estávamos nos relacionando com um processo intuitivo e que exigia novos tipos aprendizado

De acordo com Senge (2009), aprender não significa adquirir mais informações, mas sim expandir a capacidade de criar resultados.

Nesse sentido, a abertura para “escutar” os dados e desenvolver novas distinções sobre “como” e “desde onde” observá-los, foi fundamental para trabalhar com o método científico (Teoria Fundamentada nos Dados) que nos propiciou vários aprendizados, em vários níveis, em plena sintonia com a natureza ontológica da aprendizagem transformacional que, há anos, vimos perseguindo por meio da observação atenta aos processos ou dinâmicas de funcionamento de “organismos” humanos, sejam estes, pessoas ou organizações.

Para conhecer mais detalhes dos resultados dessa trajetória, compartilho alguns links dos trabalhos publicados no VII Seminário Hispano na Universidad Complutense de Madrid (realizado em 2018), no capítulo 2 do livro Competencias en Información y Políticas para Educación Superior: Estudios Hispano-Brasileños (publicado em 2019) e no capítulo 6 do livro Digital Convergence in Contemporary Newsrooms: Media Innovation, Content Adaptation, Digital Transformation, and Cyber Journalism (publicado em 2021).

Informações detalhadas podem ser encontradas em: